Pergunta: Queria que você falasse da dupla de volantes mais marcadores, com Vera e Otávio. É uma tendência para a sequência do campeonato? Além disso, o time não sofreu gols.
Gabriel Milito: “Sim. Era importante ganhar o jogo de hoje. Era importante ganhar sem receber gols. Era importante voltar a ganhar em casa, com a nossa gente. Agora, é uma possibilidade jogar com Otávio e Fausto Vera, mas temos mais opções para escalar. Temos o Paulo Vitor, o Alan Franco que joga como iniciador de jogo, hoje foi mais adiante. Optamos por colocar Paulinho por fora com a ausência do Arana. Defendemos com a estrutura inicial de 4-3-3, com Battaglia e Otávio jogando de zagueiros, e Fuchs e Alonso controlando os extremos, Scarpa no lateral direito, Paulinho no lateral esquerdo. Bernard e Alan Franco contra os dois volantes, e o Hulk entre os dois zagueiros. Essa era a estrutura para defender. Para atacar, era com saída de três, mais Fausto e Otávio, adiante Franco e Bernard, com três atacantes – Paulinho e Scarpa por fora, Hulk centralizado. Essa foi a escolha que achamos melhor para o jogo de hoje. Para os próximos jogos, vamos ver o que mais nos convêm”.
“Agora, tenho um plantel com muitas variações, possibilidades. E ainda vamos recuperar jogadores. Alguns estão perto de voltar. Alisson vai demorar um pouco mais, Everson estará disponível prontamente, Zaracho também, Rubens… Alisson é um pouquinho mais de tempo. Será muito bom para o grupo, ter mais opções para fazer escalações. O grupo sabe qual será a dinâmica, muitos jogos importantes pela frente. Precisaremos de todos. Vamos ver se iremos repetir ou fazer modificações para o próximo jogo. Preciso dizer que os quatro jogadores que chegaram (Alonso, Lyanco, Vera e Bernard) são muito bons. Mas precisam de um processo de adaptação. Creio que somos uma equipe ainda em construção. Os jogadores recém-chegados precisam ir tomando ritmo competitivo, as dinâmicas das partidas. Substituímos o Bernard basicamente pelo seu esforço físico e cansaço. A melhor forma de ficar pronto é jogando. Por isso Fausto Vera jogou, Bernard e Alonso repetiram, e Lyanco também estreou. É algo muito bom para todos nós. Estou desfrutando de ter várias opções”.
Pergunta: Queria saber a decisão de não colocar o Saravia de titular. Outra pergunta: o técnico do Vasco elogiou o fato de o Atlético ter grande capacidade nos duelos individuais. Isso passa por um meio de campo com mais pegada, tendo Otávio, Fausto Vera e o Alan Franco?
Gabriel Milito: “Colocamos quatro volantes, se fala volantes aqui também? Sim? Colocamos quatro volantes porque justamente são os jogadores de mais capacidade física. Otávio fez muito bem a função de volante, mas também de zagueiro. Nós nos defendemos com quatro, mas sem que Paulinho e Scarpa tivessem a obrigação de voltar. Não poderíamos defender com três, o Battaglia tinha que ter um reforço na linha da zaga, sobre a marcação do Vegetti. Esse reforço era o Otávio. Fausto Vera marcava o mediapunta (termo em espanhol para o armador de jogadas), no meio de campo, era 3 x 3, com Bernard, Alan Franco e Fausto Vera. Nas laterais, eram 2 contra 2, tínhamos um jogador a mais na zaga, com o Otávio, e um jogador a menos na frente, com o Hulk entre Maicon e Léo (zagueiros do Vasco).
“Sim, tivemos muito melhor o controle de contra-ataques, sustentação dos ataques. Marcamos a diferença no primeiro tempo, acho que poderíamos ter feito até o terceiro gol, foi um domínio controlado. No segundo tempo, eles saíram mais para o jogo, com as substituições, nos colocaram mais no nosso próprio campo. Tínhamos que apresentar a solidez defensiva para não sofrer. Fizemos muito bem com a mesma estrutura defensiva. Com o passar do tempo e o desgaste natural dos jogadores, decidimos colocar uma linha atrás fixa, com cinco jogadores, além de três volantes e dois atacantes, pois teríamos espaço para contra-ataques. Ainda que não tivéssemos grandes chances claras de gol, sabíamos da sensação de perigo que iríamos produzir cada vez que recuperássemos a bola. Já passamos a jogar essa partida, e a interpretação dos jogadores foi muito boa. Os jogadores que ingressaram deram à equipe esse frescor de energia que era necessário”.
“E porque jogou Fuchs (e não Saravia)? Eu queria iniciar com 3 zagueiros, com ele, Battaglia e Alonso. E porque precisávamos… O Vasco é uma equipe que joga com Vegetti como referência, que o busca sempre em cruzamentos. Necessitávamos de uma zaga com mais altura e bom jogo aéreo, esse foi o motivo. Poderia ter jogado, perfeitamente, Renzo. Mas, temos que escolher. E escolhemos Fuchs justamente pela altura”.
Pergunta: Estamos chegando na metade do Brasileiro. A distância do Galo para o líder é significativa. Agora, virão os mata-matas. Você já pensou em priorizar as Copas em relação ao Brasileiro? Se tiver que escolher, irá preservar jogadores para as Copas?
Gabriel Milito: “De nenhuma maneira passa isso pela minha cabeça. Sabemos que teremos jogos importantes na Copa do Brasil e Libertadores. Mas não haverá prioridade sob nenhum ponto de vista. Precisamos nos recuperar no Brasileiro, somar os pontos. O mais importante para nós é o jogo seguinte. Agora, podemos rodar o elenco, em caso necessário, pois teremos nove jogos em agosto, todos importantes, em todas as competências. Temos um plantel muito bom, e daremos a mesma importância nas três competições. Creio que temos, agora, mais condições de ser competitivos. Claro, o desejo pela Copa do Brasil e Libertadores está intacto. Sem prioridade sob o Brasileiro. Para nós, as três são muito importantes. E o mais importante é o jogo seguinte. Teremos a semana cheia, trabalho duro para tentar ganhar do Corinthians em casa, e somar mais três pontos”.
Pergunta: Você falou bastante do sistema defensivo. Mas, não tem como destacar o ataque do Galo hoje. Como é treinar um ataque com quatro jogadores com características tão diferentes e que se completam – Hulk, Paulinho, Scarpa e Bernard.
Gabriel Milito: “Eu entendo que as características dos jogadores é muito importante, assim como o posicionamento, que é feito de acordo com a estrutura do rival. Não é a mesma coisa jogar… Por exemplo, contra o Juventude, eles jogaram com 4-4-2 no primeiro tempo, nos defendemos assim. No fim do primeiro tempo, o treinador deles colocou a linha de cinco para fazer a contenção da nossa amplitude, que deixou de existir. Isso aconteceu por esse quinto elemento na linha do Juventude. Foram 5-4-1, o que não é a mesma coisa de atacar para qualquer time. No segundo tempo, mudamos. Antes, atacamos com 3-2-2-3, contra o 5-4-1 deles, pensamos que o Alan Franco deveria deixar de ser o primeiro volante para jogar mais à frente, com Bernard atuando perto de Hulk. Um primeiro volante era suficiente para iniciar o jogo. Isso foi uma decisão de acordo com o que o jogo pediu. E terminamos o jogo com dois laterais de zagueiro, dois extremos, Paulinho, Hulk, Vargas e Kardec no ataque. E tivemos perto de ganhar o jogo. Isso tentamos fazer por causa da necessidade da partida. Todo posicionamento para defender e atacar tem dependência do rival.
“Hoje, com a vantagem de 2 a 0, no minuto final, decidimos cuidar do resultado, não sofrer gols, modificamos nossa estrutura defensiva por causa das modificações do Vasco. Sentíamos que precisávamos de seis jogadores por dentro, a linha de 3, mais o contenção, que é o Otávio, com Fausto Vera, depois Paulo Vitor, Alan Franco. Colocamos Lyanco no lugar de Scarpa, pois sentíamos que ele cansou. Precisávamos controlar e defender bem a partida, acho que fizemos bem. Toda essa variedade é fruto do resultado, do adversário, das opções que tenho. Hoje, temos um elenco de muitas opções e qualidade. As decisões são tomadas em função do que vai acontecendo no jogo. Para isso, temos a semana de trabalho. Nem sempre temos tanto tempo, é partida em cima de partida. Agora, teremos uma semana longa para fortalecer alguns aspectos que eu considero importantes”.
Pergunta: Você ganhou dois zagueiros na janela, no meio, tem o Fausto Vera. Com todos os zagueiros à disposição, o Battaglia seguirá sendo usado como zagueiro?
Gabriel Milito: “Battaglia é um jogador que me dá muita confiança quando joga de zagueiro. Fez uma grande partida contra um dos melhores atacantes do Brasil. E controlou de forma espetacular. A cada cruzamento na área, o Battaglia apareceu para dar segurança. Poderá seguir nessa posição, claro, e também de volante, se precisarmos. Sei que temos seis zagueiros, mas temos muitas partidas adiante. É melhor ter muitas opções de escolha, pois nunca sabemos o que pode acontecer, tem as fadigas musculares, suspensão por cartões. É melhor sempre ter pelo menos dois jogadores por posição, de preferência do mesmo nível, tendo muita concorrência interna melhorando a qualidade do grupo. E cabe a mim decidir quem joga. Se ganharmos, estará de acordo com as minhas decisões. E se perdermos, não vai estar. Eu conheço a regra do jogo. Mas não vejo dessa maneira. Eu, perdendo, posso entender de maneira privada, com os jogadores, que tomamos a decisão correta, ainda que o resultado seja ruim. E, se ganharmos, também reviso e posso dizer que poderíamos ter feito melhor aqui e ali. Para mim, o resultado vai para um lado, e as decisões e análises prévias vão para outro. Claro, é mais fácil falar depois que as coisas acontecem. Só que eu sou encarregado de decidir antes. Eu faço tudo com muita convicção, pensando no que é melhor para o time. Terei boas e más decisões, mas tem a ver com o rendimento, nem sempre com o resultado. Eu não analiso resultado, eu quero jogar todos os jogos. Mas o resultado é uma coisa, o rendimento é outra. Minha obrigação é analisar o rendimento, aí estará o verdadeiro crescimento da equipe. Não é porque venceu que está tudo bem, nem que perdeu e está muito mal. Eu seria um péssimo treinador se só analisasse os resultados. Há coisas boas para tirar de derrotas, e erros para corrigir de vitórias. Essa é a dinâmica que estamos administrando com o grupo de jogadores e comissão técnica, seguiremos funcionando dessa maneira”.
Pergunta: Hoje o Atlético deixou o campo sem um jogador fora por suspensão. É um trabalho da comissão técnica de acalmar os jogadores?
Gabriel Milito: “Somos uma equipe que jogamos com muita intensidade, e rivais de qualidade. Claro, quando chegamos um pouco tarde nas jogadas, isso pode custar cartões amarelos. Sei que isso vai acontecer. Por isso falo de ter um plantel mais amplo. Em toda parte do mundo, são cinco cartões amarelos para um jogo de suspensão. Aqui no Brasil, são três cartões para ter a suspensão. Por isso é tão importante ter muitas opções, recomposições no elenco, além da sequência forte de jogos. Mas, sim, falamos sobre tudo, ainda mais os cartões vermelhos. Numa competição tão árdua e equiparada, jogar com um jogador a menos é condicionante para o desenvolvimento da partida. Foi algo que nos ocorreu, aprendemos com isso, e acredito que não irá acontecer mais. Se não ganha porque eles jogaram melhor, ok. Mas, não podemos dar vantagens aos adversários. Agora, cartão amarelo irá acontecer, é norma. O vermelho, não. Tentaremos fazer que isso não aconteça mais”.
Pergunta: O torcedor do Atlético confia muito em você. Daqui para frente, com o elenco mais recheado, as variações táticas vão acontecer com mais frequência?
Gabriel Milito: “Vai acontecer! Seguirá acontecendo, e podemos ser mais fortes como equipe. É muito bom para nós ter jogadores que podem se adaptar a jogar em mais de uma posição. Paulinho jogando por dentro todos sabemos o que é, jogando por fora também desequilibra. É uma opção a mais. Sobretudo sem ter Arana e Rubens. Sei que ele, se jogar por fora, poderá fazer com naturalidade. O que nunca vou fazer é que um jogador jogue numa posição sem ter treinado, ter passado por essa sensação, e, sobretudo, que o jogador não goste de jogar ali. Eu falei com Otávio que precisava fazer isso, isso e isso. Tem que jogar de zagueiro e volante. Se sente cômodo? Se não se sentir, buscarei outra opção. Ele me disse: “Eu o faço!”.
“Antes de o Arana ir para a Copa América, ele atuou como zagueiro contra o Bahia, ele jogou pelo lado esquerdo, porque o Bahia tem um lateral esquerdo que avança muito. Então, com a bola diagonal, colocamos o Alisson. Eu conversei com Arana: “Guille, eu penso assim, se sente confortável para jogar aqui?”. Não posso colocar um jogador numa posição que não se sente cômodo. O Arana disse que jogaria. Quando o Battaglia tinha que jogar de zagueiro contra o Corinthians, falei com ele. Creio na comunicação, e que há certos jogadores que podem fazer funções distintas. Isso tem a ver com o rival, da disponibilidade de um jogador de atuar numa posição para ajudar a equipe, estando de acordo com isso. Jamais faria com que um jogador entrasse em campo com incômodos táticos ou dúvidas, isso traria um problema a mais além dos já habituais. Eu creio nas variações, mas, principalmente, em acordos com os jogadores”.
Pergunta: Você tem no elenco vários jogadores de bola parada. Hoje, o Galo fez um gol de escanteio. Queria que você falasse das jogadas de lateral, as variações e as bolas aéreas
Gabriel Milito: “Nós damos grande importância à bola aérea contra e a favor. Temos as análises prévias do adversário, buscando onde podemos gerar perigo. É algo que todos os treinadores fazem. Claro, podemos aproveitar bastante esse tanto de qualidade que temos na bola parada. Geramos perigo, fizemos gols com bolas paradas. Mas, sim, gostaria de aumentar ainda mais o nosso aproveitamento nessa questão. Hoje, fico contente pela contundência das nossas ações defensivas. Sou um inconformista por natureza, sempre vou buscar fazer mais e melhor. E contamos com um grupo de jogadores que pensa assim também”.
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