🎺🐔”Chora! Não vou ligar…”
Há exatos 45 anos, em 11 de março de 1979, a torcida do Galo comemorava o título de campeão mineiro de 1978 com o samba de maior sucesso do Carnaval daquele ano, e seria adotado como o segundo hino da Massa.
Naquela data, o Galo vencia o Estadual de forma antecipada, e a torcida invadia a Avenida Afonso Pena para celebrar o retorno da conquista. Era o pontapé da histórica sequência do hexacampeonato mineiro (1978-1983).
O Atlético havia vencido o Valério por 2 a 0 na véspera, sábado, 10 de março. No domingo, o América surpreendeu o Cruzeiro por 2 a 1, dando o título ao Galo. De improviso, a Charanga do Júlio convocou a torcida pelas rádios, e foi para o Centro da BH iniciar o cortejo do título. “Vou Festejar”, lançada meses antes, já estava no repertório da banda alvinegra, e caiu no gosto da Massa.
“Você pagou com traição, a quem sempre lhe deu a mão! Galo! Galo! Galo!”, era o que gritava a torcida do Atlético no meio da principal avenida do Centro de BH (ouça no fim desse vídeo)
A canção
Imortalizado na voz de Beth Carvalho, “Vou Festejar” virou uma das marcas da arquibancada alvinegra, e também foi um marco da música brasileira. A canção abriu o álbum De pé no chão, da cantora carioca, considerado o percussor do pagode.
Como uma “descobridora de talentos”, Beth já havia ajudado a resgatar a genialidade de Cartola, e foi levada para o bloco Cacique de Ramos, no subúrbio carioca, pelo então jogado do Vasco da Gama, Alcir Portela.
Lá, ela teve contato com uma roda de samba que acontecia após partidas de futebol na sede do bloco carnavalesco. Se encantou com uma nova forma musical, e teve acesso a várias músicas, entre elas, a composição de Jorge Aragão, Neoci e Dida. Reuniu as letras e construiu um álbum revolucionário em 1978.
Com inovações de instrumentos musicais, o disco foi lanço em setembro de 1978, com clipe oficial veiculado no programa Fantástico, da TV Globo, semanas depois.
Nele, Beth Carvalho, com um vestido à la cigana, aparece entoando a música justamente Cacique de Ramos, acompanhada por Jorge Aragão e outros sambistas que formaria, logo depois, o Fundo de Quintal.
A conexão
Naquele momento, o Campeonato Mineiro de 1978 já havia se iniciado, com previsão de turno, returno, e quadrangular final. O Atlético se classificou para a fase final que só seria disputada no início do ano seguinte. Durante o Carnaval de 1979 (fim de fevereiro, com o Mineiro paralisado), o “Vou Festejar” entrou no repertório da Charanga do Galo, em apresentações pelo interior de Minas Gerais.
Na retomada do Estadual, a música já estava na cabeça da Massa. Quando o título foi sacramentado, a Charanga atravessou a avenida e, até a altura da Igreja São José, fez a torcida celebrar seu Carnaval particular.
“A torcida do Atlético foi apanhada desprevenida. Mas, mesmo assim, as ruas de Belo Horizonte tiveram um Carnaval muito mais animado e autêntico do que o Carnaval de verdade”, disse Luciano do Valle, então apresentador do Globo Esporte.
Em 2006, na festa de retorno à Série A, o Atlético recebeu Beth Carvalho em um Mineirão com 75 mil torcedores. De helicóptero, a “Madrinha do Samba” cantou uma de suas interpretações mais famosas, adotada como segundo hino do Galo.
Uma relação que começou há quase meio século, mediante a uma campanha de 28 jogos, com 19 vitórias, 6 empates, e apenas três derrotas.
“Você pagou com traição a quem sempre lhe deu a mão”