Por Oliveira Lima
O processo de constituição da SAF do Cruzeiro foi um marco, sendo o primeiro clube brasileiro a se tornar clube empresa. O dia 18 de dezembro de 2021 entra para a história do futebol. Neste dia o Cruzeiro vira SAF e é comprado por ninguém menos que Ronaldo Fenômeno, uma das celebridades mais conhecidas do planeta. Foi num sábado e foi também a manchete de abertura do Jornal Nacional e principal reportagem, com repercussão para mais de 85 milhões de brasileiros. Time estava há dois anos na série B e literalmente falido, sem dinheiro para comprar o básico para o dia a dia.
Ronaldo comprou o Cruzeiro pagando à vista 50 milhões de reais no ato e mais 350 milhões em cinco anos, com recursos vindos do próprio clube. Com uma dívida beirando à 1 bilhão e 500 milhões de reais, Fenômeno teve de cara que pagar 90 milhões à FIFA para se livrar do transferban, dinheiro direto do bolso dele. A gestão foi exemplar num futebol brasileiro totalmente falido. Logo no primeiro ano, em 2022, faz Campanha histórica na Série B, a melhor da história da competição, bate campeão voltando à série A e ainda pagando a metade da dívida. Trabalhou como uma verdadeira empresa, enxuta, com lucro e com os pés no chão. Recuperou o time e o clube.
Em 2023, jogando a Série A, depois de 3 anos, fez campanha para permanência na elite. Insatisfeita, a torcida trucidou Ronaldo Fenômeno, naquele ato de queimar o bandeirão que mostrava seu rosto, a mesma que foi ostentada na goleada de 3×0 sobre o Vasco, no Mineirão, quando o time retornou à série A. . Torcida que nem sequer entendeu que nos três anos de Ronaldo o Cruzeiro passou pelas transformações mais intensas da sua história e também do mundo. Nenhum clube no planeta esteve tão perto de desaparecer por conta das dívidas que resultaram péssimos resultados em campo, sendo até mesmo ameaçado de cair para a série C.
Percebendo que a torcida não compraria sua política de pés no chão, Ronaldo vende o clube ao seu amigo, o empresário Pedro Lourenço, um fanático torcedor milionário, que já ha tempos “ajudava” o clube. Novamente o Cruzeiro é precurssor: já fora a primeira SAF e vendida em 29 de abril de 2024, se torna também o primeiro clube empresa a ser revendido. Valor foi de 600 milhões de reais.
Primeiro ato de Pedrinho foi comprar jogadores midiáticos, comandados pelo goleiro Cássio. Mais à frente reafirma suas intensões, trazendo Gabigol e Dudu. Sai de uma folha de pagamento em torno de 8 milhões da era Ronaldo para uma que beirava aos 20 milhões, uma das mais altas do futebol brasileiro. Mandou embora um técnico que estava dando certo e trouxe outro midiático, com passagem pela Seleção Brasileira. Saiu Fernando Seabra, chega Diniz. Não deu certo. Time perde a final da Sul-americana e não se classifica à Libertadores.
Lourenço gastou muito dinheiro e resultado ruim em campo, prejuízo financeiro, claro. Começa 2025 e Cruzeiro acha no mundo árabe o técnico português Leonardo Jardim, que com carta branca, revoluciona o time que hoje é líder do Brasileirão, junto com o Flamengo. A consequência do sucesso é o prejuízo financeiro na conta do dono, Pedrinho BH. Resultado contrário às ideias de uma SAF, que são empresas e visam o lucro. Pedrinho é empresário bem sucedido, mas o Cruzeiro SAF para ele não é empresa, é paixão. Pode dar prejuízo. Disse que não comprou o Cruzeiro para ganhar dinheiro e sim para ganhar emoção, como torcedor fanático que é. Já disse a seus familiares que enquanto estiver vivo irá comandar o clube, colocando lá 200 milhões de reais por ano para ganhar campeonatos, que é o único retorno que ele quer. Sendo assim, é paixão e não SAF.