A Comissão de Anistia aprovou nesta terça-feira (2) o pedido do ex-atacante Reinaldo, maior artilheiro da história do Atlético Mineiro, reconhecendo oficialmente que ele foi perseguido durante a ditadura militar por suas manifestações políticas. Além do perdão estatal, o colegiado autorizou o pagamento de R$ 100 mil a título de indenização, referente a nove períodos de perseguição entre 1978 e 1986.
Durante a cerimônia em Brasília, a ministra dos Direitos Humanos, Macaé Evaristo, pediu desculpas em nome do Estado brasileiro. Reinaldo, visivelmente emocionado, respondeu com o gesto que marcou sua carreira: o punho cerrado erguido, inspirado no movimento dos Panteras Negras. O gesto foi repetido por todos na sala, em um momento simbólico de reconhecimento e reparação.
“Talvez vocês se lembrem da minha trajetória nos campos, mas pode ser que não saibam da luta, muitas vezes silenciosa, que tive que enfrentar. Todos nós sabemos dos horrores da ditadura que tiraram a vida de tantos brasileiros, mas a repressão do Estado foi muito além dos porões e das celas e não usava só a violência física. Eles criavam campanhas de difamação, verdadeiras operações para acabar com a reputação e a vida social das pessoas que eles consideravam inimigos ou ameaças; era uma máquina de propaganda e mentiras que agia nas sombras com resultados terríveis na vida real“, diz o ex-jogador em seu discurso.
Reinaldo foi alertado a não fazer comemoração conhecida
Maior artilheiro do Galo, com 255 gols, Reinaldo era conhecido não só pela habilidade, mas também por levantar o punho esquerdo após marcar – ato que unia protesto contra o racismo e crítica à ditadura. Em depoimento à comissão, o ex-jogador relatou retaliações diretas, como ter sido impedido por militares e dirigentes da antiga CBD de disputar a final do Campeonato Brasileiro de 1977 pelo Atlético.
Ele também contou que manteve a manifestação mesmo depois de um alerta do então ditador Ernesto Geisel, que lhe teria dito: “Jogue bola; deixe a política para a gente.” Na Copa de 1978, ao marcar pela seleção brasileira, Reinaldo voltou a erguer o punho – ato que, segundo ele, aumentou a vigilância e a pressão sobre sua trajetória no futebol.








