Há dois anos, a brasileira Karin Rachel Aranha luta para reencontrar o filho Adam Ahmed, de 6 anos, sequestrado pelo pai, Ahmed Tarek Mohamed, e levado ilegalmente ao Egito em 2022.
Karin conheceu Ahmed online em 2017. Após seis meses, mudaram-se para o Brasil e se casaram em 2018. A gravidez seguiu, e Adam nasceu em 26 de novembro em Nova Jersey, nos Estados Unidos. A mudança para o país norte-americano seria para que a criança nascesse com dupla nacionalidade. Esse foi o único contato de Karin e o filho nos EUA.
Após Ahmed conhecer a criança pela primeira vez, os problemas começaram. O pai disse que queria que Adam fosse introduzido aos costumes do país de origem, o que causou questionamentos por parte da mãe. as agressões começaram quando Adam tinha três meses. Além do filho com Ahmed, Karin tem outro menino de um relacionamento anterior.
Em 2022, enquanto Karin trabalhava na Inglaterra para sustentar a família, Ahmed aproveitou sua ausência e fugiu com Adam, então com 3 anos e 8 meses. Ele cruzou a Ponte da Amizade (entre Foz do Iguaçu e Ciudad del Este), voou para Madrid, na Espanha, e depois para o Egito. Karin descobriu o sumiço ao retornar ao Brasil: a casa estava revirada, documentos pessoais e da mãe falecida, além de R$ 15 mil haviam sumido.
“Por que ele fez isso? O que eu fiz para ele, tava trabalhando, mandando dinheiro lá da Inglaterra. Por que tudo isso? Uma cidadania brasileira? Ele me deixou na miséria, sem dinheiro, deixou dívidas e não pagou aluguel. Foi horrível e só passei a emitir um boletim. Ele puxou a ficha e disse que tem passaporte e RG e tirou a cidadania brasileira em maio. Fiquei cinco anos dormindo com o inimigo“, disse.
Criança levada para o Egito está na lista da Interpol
Ahmed, hoje foragido da Justiça e na lista da Interpol, ignorou pedidos de Karin para devolver o filho. Em contato com a TV Record em 2024, seus advogados afirmaram que ela “nunca mais veria a criança”. Adam está na “lista amarela” da Interpol, alerta global para desaparecidos.
O Egito, onde Ahmed e Adam estão, não é signatário da Convenção de Haia, que prevê a repatriamento de crianças retiradas ilegalmente de seu país de residência. Sem o acordo, a Justiça brasileira enfrenta obstáculos para agir. Karin relata falta de apoio do governo.
“O Ministério das Relações exteriores me mandou algumas fotos. Em uma delas, o Adam estava acima do peso e com o cabelo não avança no caso. Já na foto da divisão vermelha, ele estava mais arrumado. Porém, tem a questão: para embaixada, está tudo bem. Mas qual é a criança que está a quase três anos longe da mãe e está bem?“, questiona.
A Polícia Federal incluiu Ahmed na lista da Interpol em dezembro de 2023, mas seu nome não aparece publicamente — possível sinal de que investigações são sigilosas. Para que a prisão seja efetivada, o STF precisaria homologar o pedido, e o Egito teria de cooperar, o que é improvável.
Atualmente, Karin mora no Egito e participou de audiências no país africano. Em nenhuma delas, Ahmed apareceu: ele sempre estava representado de advogados. Os magistrados eram todos homens, o que não passa credibilidade, segundo a mãe.
“Estou presa em um país que não posso ter uma vida e trabalhar por causa de um processo. Ele saiu ilegal do Brasil como uma criança traficada. E agora nós estamos presos neste país. Eu quero ser repatriada, eu tenho família. O Itamaraty fechou os olhos para mim e para meu filho de seis anos. Eu sou julgada por juízes homens e não tem nenhuma magistrada para defender. A embaixada precisa de voz para me ajudar. Cadê o Adam? Existe um pedido de uma juíza que não é respeitada?”, disse.
No dia 30 de abril, está marcada uma nova audiência. “No Brasil, se ninguém conhece, perde a guarda. No Egito, dão uma segunda chance. Eu só quero uma vida para o meu filho“, finalizou.
A reportagem tentou ouvir o Itamaraty e o Palácio do Planalto, mas não obteve resposta. Enquanto isso, Karin busca visibilidade para o caso, esperando que a pressão internacional force uma solução. “Preciso que meu filho volte para casa”, implora.
Veja a entrevista completa abaixo:
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