O adiamento das eleições para o diretório estadual do PT em Minas Gerais, que estavam agendadas para domingo (6), expôs a intensa rivalidade que tem permeado o partido no estado nos últimos anos. Dois grupos antagônicos, liderados pelos deputados federais Reginaldo Lopes e Rogério Correia, travam uma batalha acirrada pelo comando do PT mineiro, com divergências que abrangem desde questões ideológicas até decisões sobre candidaturas e alianças eleitorais.
As deputadas Dandara Tomantzin e Leninha surgiram como as principais candidatas à presidência do PT em Minas, cada uma apoiada por uma das facções. O grupo de Reginaldo Lopes, que apoia Dandara, é composto por figuras influentes como a prefeita de Contagem, Marília Campos, o atual presidente do PT-MG, deputado estadual Cristiano Silveira, e a deputada Andreia de Jesus. Em contrapartida, a ala de Rogério Correia, que defende Leninha, vice-presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), conta com o suporte de outras personalidades notáveis, como as deputadas Beatriz Cerqueira e Ana Pimentel, bem como os deputados Paulo Guedes, Ulisses Gomes e Patrus Ananias.
No final de junho, a liderança do PT decidiu não aceitar a candidatura de Dandara, exacerbando a crise interna. A direção argumentou que a deputada tinha uma pendência financeira de R$ 130 mil, conforme as normas do partido, que exigem que os membros contribuam com uma porcentagem de seus salários. Rogério Correia mencionou que mais de 400 candidaturas a diretórios municipais do PT foram rejeitadas por motivos semelhantes.
Dandara contestou essa afirmação, alegando que saldara sua dívida, embora fontes internas do PT indicassem que o pagamento foi realizado fora do prazo. Após a recusa de sua candidatura, Dandara recorreu à Justiça para assegurar sua participação nas eleições. Na tarde de sábado (5), véspera da votação, ela obteve uma liminar que permitiu sua candidatura, alegando que não teve a chance de se defender, o que fere as normas do partido.
O juiz Jerônimo Grigoletto Goellner, da 17ª Vara Cível de Brasília, acatou o pedido e afirmou que Dandara estava em dia com suas obrigações financeiras, garantindo-lhe o direito de concorrer. Contudo, horas depois, o PT anunciou a suspensão das eleições em Minas, justificando “impossibilidade logística” para incluir Dandara nas cédulas já impressas. A nova data para a votação ainda não foi determinada, e uma reunião agendada para terça-feira (8) deverá definir os próximos passos.
No domingo (6), Rogério Correia e seus apoiadores convocaram uma coletiva de imprensa para comentar o adiamento. Ele criticou a judicialização do processo, afirmando que não teria coragem de enfrentar os militantes do PT com uma dívida como a de Dandara. Rogério enfatizou que a situação não apenas desafia a liderança do partido, mas também os filiados, ressaltando que o PT não é um “partido de aluguel”.
As tensões se intensificaram quando Rogério relembrou desavenças do ano anterior, quando não recebeu apoio de Reginaldo Lopes em sua candidatura à prefeitura de Belo Horizonte. A ala de Reginaldo defendia uma aliança com o então prefeito Fuad Noman (PSD), enquanto Rogério se prepara para uma nova candidatura em 2024.
O episódio envolvendo Dandara acirrou ainda mais a crise dentro do PT em Minas Gerais, onde a desunião entre os filiados se tornou mais evidente. Rogério afirmou que a candidatura de Dandara não representa uma renovação, mas sim a continuidade de uma liderança incapaz de agir em prol do partido. Em resposta, Cristiano Silveira, atual presidente do PT em Minas, criticou as declarações de Rogério, acusando-o de demagogia e enfatizando que, se desejam unidade, devem permitir que Dandara dispute a eleição.
Após o adiamento, Dandara enviou uma carta aos filiados, afirmando que sua candidatura foi rejeitada sem uma justificativa válida e reiterando sua busca por diálogo e justiça ao longo de todo o processo. Ela destacou que não se pode permitir a manipulação de regras para realizar perseguições políticas dentro do partido.