O cantor sertanejo Ronaldo Torres de Souza foi preso preventivamente em Passo Fundo (RS) no dia 5 de dezembro, durante a operação “Desafino,” conduzida pelo Ministério Público de Goiás (MPGO). Ele confessou participação em um esquema de fraude envolvendo o roubo de músicas e manipulação de números em plataformas de streaming, tornando-se a primeira pessoa no Brasil a ser presa por esse tipo de crime.
Segundo as investigações, Ronaldo utilizava perfis falsos para publicar músicas de outros compositores, desviando os lucros das reproduções para sua conta bancária. Para aumentar os números de audiência, ele operava um sistema de bots que simulava a reprodução das faixas, configurando o que as autoridades chamaram de “fazenda de streams.” Durante a operação, foram apreendidos 21 laptops em sua residência, em um condomínio de luxo no Recife. Os equipamentos eram capazes de simular 2.500 ouvintes simultâneos, e os dispositivos continham 3.900 arquivos de músicas armazenados, supostamente roubados.
Além de utilizar obras de outros artistas, o cantor também explorava faixas geradas por inteligência artificial, sem envolvimento de compositores reais. A fraude foi organizada por meio de identidades fictícias, capas de álbuns falsas e registro de músicas em agregadoras, sendo a maioria estrangeira. No entanto, 36 dos 209 perfis falsos identificados foram registrados pela empresa brasileira WMD, que colaborou com as investigações e apontou indícios de que a rede de fakes era ainda maior.
O Ministério Público estima que os prejuízos aos compositores originais ultrapassem R$ 6,6 milhões. Entre as vítimas confirmadas está o cantor Murilo Huff, que possui mais de 11 milhões de ouvintes mensais no Spotify. Ronaldo direcionava os ganhos das músicas roubadas para sua conta via Pix e acumulou cerca de R$ 2,3 milhões em bens, incluindo carros e criptomoedas, que foram apreendidos durante a operação.
Em depoimento, Ronaldo admitiu não saber quantos perfis falsos chegou a criar e afirmou ter desviado pelo menos R$ 14 mil de 25 músicas, prejudicando 11 compositores. Segundo o promotor Fabrício Lamas, do CyberGaeco, o esquema afetou significativamente o mercado musical, impedindo que duplas e novos artistas tivessem acesso às obras. O cantor pode ser condenado por estelionato, falsa identidade e violação de direitos autorais, com pena prevista de até dez anos de prisão. Após ser liberado da prisão preventiva, ele alegou estar hospitalizado e não se manifestou publicamente.