O Cruzeiro teve duas semanas para descansar o corpo e a mente, além de treinar de olho no São Paulo. Mas, foi em vão. O time teve desempenho fraco, mesmo diante de um adversário reserva. Perdeu por 1 a 0 e retorna da Data Fifa ensaiando novo momento de pressão. Cenário de culpa dividida.
A parada de 14 dias era providencial para um time que vem enfrentando problemas físicos e tendo sequência grande de jogos. Mas, na prática, a primeira amostragem no retorno aos jogos foi de muita dificuldade coletiva, potencializada também por baixo desempenho individual.
A escalação foi dentro do esperado, com Vitinho se tornando surpresa em meio à ausência de Barreal e a opção por Lautaro Díaz ficar no banco de reservas. Não por essa escolha, em si, mas o Cruzeiro deu sinais de fragilidade desde o início da partida.
O São Paulo entrou em campo para jogar com uma linha de cinco defensores e explorar a velocidade pelos lados, principalmente com Erick e William Gomes, que aterrorizaram os defensores do Cruzeiro. Marlon e William foram atacados o tempo inteiro em bolas longas, com João Marcelo e Zé Ivaldo bem menos seguros em coberturas do que foram em outras partidas.
O meio-campo do Cruzeiro também segue sem conseguir encaixe. Em tese, era para ser um setor de alta combatividade, com dois volantes pegadores (Walace e Romero) e um meio-campista dinâmico (Matheus Henrique). Mas, na prática, segue espaçado, com baixo índice de duelos ganhos e pouca presença territorial para rebotes ofensivos e defensivos.
Ofensivamente, o Cruzeiro também segue com o problema de jogos anteriores, com lentidão para sair de pé em pé e conectar os meias em condição de progredirem com a bola. O são Paulo adiantou as linhas de marcação e forçou lançamentos longos dos zagueiros.
Por isso, Matheus Pereira recuou em busca de espaços, para criar jogadas e ver o jogo de frente para o campo ofensivo. E foi assim que o Cruzeiro conseguiu incomodar o São Paulo, mas com dificuldades de transformar as infiltrações em finalizações. A primeira foi aos 35, com o próprio camisa 10. É muito acima da média, cognitivamente falando, quando enxerga o campo e os companheiros em projeção, mas é desperdício fica longe da área com frequência.
Esse foi o cenário do primeiro tempo, mas que em praticamente nada se alterou para o segundo. A diferença é que o São Paulo, além das ligações diretas, começou a explorar a velocidade dos pontas e de André Silva também em contra-ataques. Assim construiu o gol, após erros de Walace, Matheus Pereira e Vitinho com a bola, e de uma recomposição lenta de Lucas Romero.
Depois do gol, o Cruzeiro conseguiu rondar mais a área do São Paulo, mas com pouca criatividade e muitos cruzamentos em uma área povoada por zagueiros e com baixa estatura ofensiva. Muito mais um abafa do que uma pressão coordenada. A melhor chance foi em arrancada de Matheus Henrique, que finalizou mal da meia-lua.
Fim de jogo com vaias para o time e xingamentos para Fernando Seabra. A parte que envolve o técnico, por ter sido mais direta e agressiva, acaba tomando mais atenção, mas a verdade é que a responsabilidade precisa ser dividida com o elenco. O Cruzeiro tem jogadores que estão abaixo no momento da execução técnica das jogadas, seja para um passe, uma condução ou finalização. Até mesmo numa movimentação com a bola distante ou nos pés do adversário.
Além da instabilidade coletiva, o Cruzeiro tem vivido uma queda individual de peças que estavam sobressaindo, como João Marcelo e Zé Ivaldo. William, naturalmente, será melhor marcado, assim como Matheus Henrique, como foi recentemente o Matheus Pereira.
À comissão técnica, cabe buscar encaixes coletivos para evitar que os pontos fortes sejam anulados, além melhorar situações que não deram certo ainda. É momento para Walace e Romero jogarem juntos no esquema proposto, por exemplo? Aos jogadores, a divisão de responsabilidade tem que ser na prática e não nos microfones. É hora de, em campo, acertar bem mais do que vêm acertando, voltando ao bom momento vivido menos de dois meses atrás.