O Cruzeiro viu escapar entre os dedos a vantagem na semifinal do Campeonato Mineiro. Saiu na frente do América, teve chance de ampliar, mas levou o empate na reta final. Lance fortuito, mas que escancara um entre tantos erros crônicos que precisam ser corrigidos por Leonardo Jardim.
Foi a estreia do português com o time principal do Cruzeiro, após escalar os reservas e perder para o Democrata GV. Fez a opção de Eduardo na vaga de Marquinhos, mudando um pouco o estilo de jogo, e já implementando algumas das características que devem ser vistas com ele ao longo do tempo.
Montado com mais um jogador de meio-campo e sem um ponta velocista pela direita, o Cruzeiro teve um pouco mais de construção pelo meio, dando liberdade para Eduardo, Matheus Henrique e Matheus Pereira se movimentarem. Houve algumas boas triangulações no primeiro tempo, acionando Dudu e Gabigol, mas ainda com ajustes que parecem depender de um entrosamento ainda não afinado.
Também foi possível ver um pedido claro de Leonardo Jardim para que o Cruzeiro jogue com campo mais aberto, utilizando os alas rentes à linha lateral, como uma tentativa de abrir caminho para os meias jogarem, em um espaço que pode ser ocupado até mesmo pelos atacantes.
Desde o início, foi possível ver o Cruzeiro se esforçando para alinhar essas jogadas e ter um time mais vertical, sem muita troca de passes entre goleiro, laterais e zagueiros, algo que irritou o técnico nas vezes em que aconteceu. Jardim também foi à loucura com os erros na saída de bola – não tão raros assim no primeiro tempo.
São ideias embrionárias e que precisam de tempo para serem vistas de forma mais eficiente. Mas, além de colocar em prática o jogo pretendido, Leonardo Jardim terá que corrigir erros que são vistos no Cruzeiro há algum tempo e que ficaram escancarados na passagem de Fernando Diniz.
O principal deles – e que foi muito visto no clássico – é a falta de ajuste na hora de pressionar a bola nos pés do adversário. O Cruzeiro está longe de ser uma equipe sincronizada neste aspecto. Deu espaços consideráveis ao América, que passava com facilidade da primeira linha de marcação e, devido à lentidão na recomposição cruzeirense, tinha muitos lances de mano a mano em transição. Só não levou perigo por erros na tomada de decisão e por bons bloqueios de Jonathan Jesus e Fabrício Bruno.
E esse espaço que foi encontrado pelo América normalmente também é achado pelos outros adversários, inclusive por aqueles com baixo poderio individual, como o Uberlândia, por exemplo. Isso se deve a outro problema crônico: a falta de combate no meio-campo.
O Cruzeiro é um time que raramente consegue ganhar o setor considerado o “coração” no jogo de futebol. Os meias adversários se aproximam da área com facilidade, normalmente em superioridade numérica. Algumas vezes falta recomposição, mas em muitas outras são erros individuais e de posicionamento. Foi assim com Lucas Romero, que ficou preso dentro da área, sem ninguém para marcar, e permitiu o chute de Cauan Barros para empatar.
Ofensivamente, o Cruzeiro tem demonstrado algum crescimento coletivo quando joga com as principais peças, mas o clássico escancarou um problema também visto há tempos: os pontas sofrem para ter aproximações. É assim com Marquinhos, quando está na ponta direita, e tem sido com Dudu, que cada vez mais depende das tentativas individuais para ter sucesso. Diante do América, o camisa 7 não esteve inspirado, apesar de ter conseguido boas combinações com Gabigol e Matheus Pereira, com ajustes a se fazer no acabamento.
Outro fator ofensivo que é preciso melhorar – e que foi admitido pelo próprio técnico na entrevista coletiva – é o desempenho na bola aérea. Foram seis escanteios, além de faltas na intermediária, que não levaram qualquer perigo ao gol de Matheus Mendes.
Leonardo Jardim, que começou a trajetória em campo há uma semana, comandou poucas sessões de treinos com o elenco principal, mas terá trabalho para implementar o que ele diz ambicionar no futebol: um time equilibrado, compacto e vertical. Talvez sejam as três coisas que mais faltam ao Cruzeiro neste início de ano.
O português terá uma semana para trabalhar com os jogadores na Toca da Raposa visando a volta da semifinal. O Cruzeiro precisa da classificação para seguir em busca do título, claro, mas também para tentar retomar uma confiança que para o externo está manchada e que até mesmo dentro de campo parece faltar em alguns momentos.