O Cruzeiro jogou bem, venceu o Libertad por 2 a 0 e encaminhou a vaga para a semifinal da Conmebol Sul-Americana. O placar, fruto de uma estratégia que funcionou desde o começo, poderia ter sido ainda mais elástico. O resultado era o que mais importava em Assunção, mas o time consegue voltar também com um respiro coletivo em meio a problemas.
Fernando Seabra teve de mudar o time, mais uma vez. E a escolha do treinador, diferentemente do que vinha acontecendo, foi por alteração não só de peças, mas também de esquema tático. Jogar com três atacantes, e não três volantes, surtiu efeito.
Desde o primeiro minuto de jogo, o Cruzeiro conseguiu o controle das ações. Foi o time que se propôs a ser no melhor momento com Fernando Seabra, com posse de bola, aproximações e atacando os espaços de forma mais aguda. Em que pese a fragilidade demonstrada pelo Libertad, o Cruzeiro teve méritos ao saber estabelecer sua teórica superioridade, algo que não aconteceu em outros jogos.
E essa imposição passou muito pela força que a equipe teve ao jogar pelos lados do campo. As dobradinhas entre Lautaro Díaz e Marlon, pela esquerda, e William e Veron, pela direita, funcionaram. O Cruzeiro conseguiu superioridade pelos corredores e tornou o jogo mais rápido, sem a lentidão de outros jogos ao forçar a partida pelo corredor central.
Utilizando esses espaços laterais e a movimentação de Kaio Jorge entre os zagueiros, o Cruzeiro construiu o placar no primeiro tempo. O primeiro gol foi com passe teleguiado de William para Kaio; o segundo contou com movimentação dos três atacantes e participação de Matheus Pereira, com trocas de posições em velocidade, até o arremate de Lautaro. E o placar do primeiro tempo poderia ter sido ainda maior, mas William e Gabriel Veron pararam em Martín Silva. Cássio foi espectador.
O segundo tempo começou um pouco mais enroscado, após o Libertad colocar Roque Santa Cruz e jogar com dois centroavantes. O Cruzeiro bateu cabeça, mas deu sorte em duas chances desperdiçadas pelos paraguaios em cerca de 10 minutos. Seabra alterou o esquema para três zagueiros e restabeleceu o controle da partida.
E foram exatamente os 40 minutos finais que deixaram a sensação de que o Cruzeiro poderia ter matado de vez o adversário. Os zagueiros cortaram todos os cruzamentos, Cássio só tocou na bola em recuos e tiros de metas, enquanto Barreal e Kaiki perderam chances claríssimas dentro da grande área. Era jogo para 4 a 0, pelo menos.
De toda forma, não há motivos para lamentar. Afinal de contas, o Cruzeiro construiu placar confortável, é superior tecnicamente e terá a torcida a favor. Mas, mais do que isso, o jogo deixa alertas coletivos que podem reajustar o time para a sequência do ano.
Com a mudança do esquema, além de o time ter conseguido desenrolar com mais naturalidade o jogo entre os homens de frente, algumas peças também voltaram a aumentar o nível técnico.
A principal delas é Lucas Romero, que retornou à função de primeiro homem, algo que não faz quando atua junto de Walace entre os titulares. Neste momento, o Cruzeiro desempenha melhor quando apenas um deles está em campo – e o argentino vive fase física e técnica superior – para jogar ao lado de Matheus Henrique, o mais regular da equipe desde que chegou.
Lautaro Díaz também voltou a jogar bem. Se em outros jogos “bateu cabeça” para achar espaços como segundo atacante, em Assunção ele conseguiu brechas chegando de trás, com possibilidade de se aproximar de Kaio Jorge ou fazer jogadas pelo fundo. Não tem refino técnico, mas ajuda muito quando tem liberdade para se movimentar com e sem a bola nos pés.
O desafio da manutenção desse esquema é o cobertor curto no atual momento do elenco. Jogar com três atacantes significa, quase que de forma obrigatória, mudar o esquema quando um dos três é substituído. É um desafio da comissão, caso haja escolha pela sequência desse estilo de jogo.
Fernando Seabra, xingado pela torcida há menos de uma semana, teve méritos ao buscar algo novo para um jogo que poderia até mesmo complicá-lo no cargo. Resta, agora, entender o que foi pontual e o que deve ser levado na montagem do time em busca de confirmar a vaga na semifinal da Sul-Americana resgatar a confiança no ano.