Um relatório divulgado pelo Escritório do Representante de Comércio dos Estados Unidos (USTR) gerou forte repercussão nas redes sociais nesta quarta-feira (16), após apontar o sistema de pagamentos instantâneos brasileiro, o Pix, como uma prática comercial desleal. A avaliação norte-americana deu início a uma onda de críticas à suposta tentativa de interferência nas políticas públicas do Brasil, provocando protestos online e cobranças a políticos brasileiros.
O relatório, fundamentado na Seção 301 da Lei de Comércio dos EUA, afirma que o Brasil estaria favorecendo serviços de pagamento desenvolvidos pelo próprio governo em detrimento de empresas estrangeiras. Entre os principais alvos do texto está o Pix, sistema gratuito criado pelo Banco Central que, segundo os autores do documento, representaria uma vantagem desleal no mercado ao competir com operadoras internacionais como Visa e Mastercard.
A publicação causou imediata mobilização na internet, com a ascensão de hashtags como #DefendaOPix, #InimigosDoPix e #BolsotrumpContraoPix entre os assuntos mais comentados da plataforma X (antigo Twitter). Usuários acusaram os Estados Unidos de atuarem em defesa dos interesses de grandes corporações do setor financeiro e criticaram o silêncio de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro sobre o tema. Também viralizou uma montagem com Bolsonaro segurando uma placa com os dizeres “Seu Pix pela minha anistia”, em tom de sátira.
Parlamentares como Erika Hilton (PSOL-SP) e Rogério Correia (PT-MG) também se manifestaram. Hilton classificou a posição dos EUA como uma tentativa de reintroduzir taxas bancárias e alertou para possíveis futuras pressões sobre temas como a Lei Geral de Proteção de Dados. Já Correia ironizou o presidente norte-americano Donald Trump, questionando a crítica ao Pix enquanto os EUA mantêm sistemas de votação e pagamentos considerados ultrapassados por parte da população brasileira.
Além das críticas ao sistema financeiro, o debate foi aproveitado por ativistas ambientais para impulsionar a oposição ao Projeto de Lei 2159/21, apelidado de “PL da Devastação”, que trata da flexibilização das regras de licenciamento ambiental. Os críticos usaram o engajamento em torno do Pix para ampliar a mobilização contra o texto, que está em pauta na Câmara dos Deputados.
O relatório do USTR foi publicado dias depois de o governo Trump anunciar um aumento de 50% nas tarifas para produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos. O texto também faz menções a decisões do Supremo Tribunal Federal, à atividade comercial da Rua 25 de Março e a acordos firmados pelo Brasil com países como Índia e México.
O governo brasileiro informou que acompanha o caso e pretende apresentar resposta formal à Organização Mundial do Comércio. O Ministério das Relações Exteriores avalia medidas com base na Lei da Reciprocidade.