Promover o intercâmbio cultural com a França foi um dos objetivos de duas reuniões realizadas pelo Governo de Minas, na sexta-feira (3/11), em Paris. O vice-governador Professor Mateus e o secretário de Estado de Cultura e Turismo (Secult), Leônidas Oliveira, se encontraram com as equipes do Centro Georges Pompidou, principal complexo cultural de arte moderna e contemporânea de Paris e um dos cinco museus mais visitados na cidade, e do Museu Quai Branly. A ideia é atrair exposições modernistas para o Circuito Liberdade e apresentar a arte do Vale do Jequitinhonha para os curadores franceses.
A diretora de Desenvolvimento Econômico do Centro Georges Pompidou, Gaële de Medeiros, e a líder de Projetos de Negócios e Desenvolvimento Internacional, Elisa Vignaud, receberam Professor Mateus e Leônidas Oliveira em reunião para ampliar as parcerias com o Estado.
A proposta é aumentar o número de exposições itinerantes com a coleção do Pompidou no Circuito Liberdade, em Belo Horizonte. Isso porque o Pompidou ficará fechado de 2025 a 2030, o que aumentará as possibilidades de mostras fora da França. O acervo do Pompidou inclui obras de artistas como Kandinsky e Du Champs.
Receber as obras do Centro – por onde passaram 3 milhões de visitantes somente em 2022 – será uma grande oportunidade para atrair turistas de todo o Brasil, reforçando o papel do Circuito Liberdade como um dos maiores complexos culturais da América Latina.
Gaële de Medeiros e Elisa Vignaud também mostraram especial interesse pela coleção modernista de Minas Gerais, uma vez que o governo mineiro mantém o Museu Casa Guignard, na cidade história de Ouro Preto. A Secult irá enviar o inventário da coleção do Estado para o Pompidou nos próximos dias, já que em 2024 o museu francês ainda estará aberto e pretende abordar os modernistas.
Museu Quai Branly
No Quai Branly, que é dedicado às artes e civilizações da África, Oceania, Ásia e das Américas, os representantes do Estado foram recebidos pelo conselheiro de Relações Internacionais da Presidência, Clémente Tougeron. A participação da arte e do artesanato mineiros em mostras no exterior contribui para apresentar a cultura do estado para o mundo, promovendo a internacionalização do Destino Minas Gerais.
Por isso, vice-governador e secretário mostraram uma das ações mais recentes de valorização e divulgação da arte e do artesanato do Vale do Jequitinhonha: a mostra “Jequitinhonha: Origem e Gesto”. Esta, pela primeira vez, reuniu na Grande Galeria Alberto da Veiga Guignard, no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, trabalhos de artistas mineiros com a estreia de uma coreografia da Cia. de Dança Palácio das Artes, fruto de uma pesquisa dos bailarinos realizada no Alto Jequitinhonha.
“Nos dois museus, discutimos as possibilidades de trocas entre Minas Gerais e França. O Pompidou é um dos maiores acervos do mundo – e temos a possibilidade de levar um pouco desta exposição para Belo Horizonte, para Minas Gerais. E, no Quai Branly, discutimos a vinda de mostras. Nada mais característico para a população da nossa Minas Gerais que o artesanato do Jequitinhonha. A gente espera que, ao longo dos próximos meses, possamos aprofundar essa conversa e, quem sabe, com o tempo, ter em Paris uma exposição da arte das ceramistas do Jequitinhonha”, avaliou o Professor Mateus.
Segundo o secretário Leônidas Oliveira, a arte popular e a cultura da mineiridade são elementos fundamentais que, colocados para fora de Minas, são verdadeiras potências.
“É a elevação da nossa cultura ao nível internacional, potencializando e mostrando ao mundo a capacidade de Minas Gerais produzir arte através dos tempos e, sobretudo, arte popular que eleva a economia da criatividade”, acrescentou.
Arte e artista
Por falar em divulgar e fortalecer os produtos mineiros, durante a visita técnica oficial do Governo de Minas o vice-governador de Minas Gerais, Professor Mateus, e o secretário de Estado de Cultura e Turismo (Secult), Leônidas Oliveira, estão presenteando empresários, embaixadores e membros da Unesco com as tradicionais queijeiras criadas por uma artista do Vale do Jequitinhonha – além de queijos mineiros artesanais.
As delicadas peças de cerâmica foram elaboradas por Anísia Lima de Sousa (veja perfil abaixo) e sua filha Cibele.
A produção das queijeiras de cerâmica é uma tradição do Vale do Jequitinhonha, popularizada nos últimos dez anos, principalmente por meio do trabalho de Anísia, de 52 anos, que desenvolveu uma técnica própria de modelagem do barro e pintura à mão das peças, usando tintas naturais de origem mineral. Suas peças estão nas principais lojas de decoração e design do país, sendo considerada uma referência da arte em cerâmica utilitária no Brasil.
“É um sonho ver um item que produzo com tanto cuidado e dedicação sendo levado para fora do país. Pelo menos aqui, no Jequitinhonha, usamos bastante as queijeiras de cerâmica em nossas mesas. Espero que as autoridades que receberam minhas queijeiras possam apreciar essas peças como itens de decoração, mas também que usem na prática, provando a eficiência da cerâmica de Minas Gerais”, disse a artista.
A seleção das obras de arte partiu da Vice-Governadoria com apoio da Diretoria de Artesanato das Secretarias de Estado de Desenvolvimento Econômico (Sede), de Cultura e Turismo (Secult), da Casa Civil (SCC) e de Governo (Segov).
“Nos últimos anos, foram desenvolvidas coleções especiais e aprimoramentos de técnicas para a produção das queijeiras. Elas caíram no gosto popular e até na preferência de lojas sofisticadas. São peças que representam muito bem a cultura de Minas, agregando valor à nossa mineiridade. Agora, poderão ajudar na promoção internacional do artesanato do Vale do Jequitinhonha”, avaliou o diretor de artesanato da Sede, Thiago Tomaz.
De 2019 até agora, o Governo de Minas investiu R$ 77.926.350,70 no setor de artesanato, por meio dos mecanismos de fomento, como a Lei Estadual de Incentivo à Cultura, o Fundo Estadual de Cultura e a Lei Aldir Blanc. Os dados são da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult).
A artesã
Anísia Lima de Sousa nasceu na comunidade de Campo Alegre, um vilarejo habitado por apenas 200 moradores e que pertence à cidade de Turmalina, no Vale do Jequitinhonha.
Ela trabalha com barro e cerâmica desde os 8 anos, ao acompanhar o trabalho da mãe, Rita Gomes Lopes que, ainda hoje, aos 70 anos, segue em atividade como uma das principais ceramistas do Jequitinhonha.
“Sempre acompanhei minha mãe em feiras na minha região. Um dia, fiz um fogãozinho a lenha de barro, e minha mãe levou para a Feira de Capelinha – e conseguiu vender. Eu fiquei tão animada com aquilo que nunca mais parei de criar”, relatou.
Desde os 18 anos, a artesã inseriu a cerâmica como forma oficial de renda familiar, em intercâmbio com o trabalho na lavoura. Com o tempo, Anísia passou a lapidar uma técnica própria de modelagem do barro, bastante reconhecida na região Norte de Minas, a partir da criação de moringas, conjuntos de pratos, copos e filtros de barro, sempre inclinada às criações utilitárias, até desenvolver um modelo próprio da queijeira de cerâmica, em 2014.
“Os filtros de barro sempre fizeram muito sucesso porque são extremamente eficientes para filtrar e manter a água fresca, mesmo em temperaturas muito quentes. Se o barro funcionava tão bem para manter a água fresquinha, pensei que poderia fazer o mesmo com o queijo, que é um símbolo mineiro. E deu certo”, finalizou Anísia.