Nesta terça-feira, o Cruzeiro completa um ano do anúncio de uma nova era da SAF do clube. No dia 29 de abril de 2024, o clube passou das mãos de Ronaldo Fenômeno para Pedro Lourenço. Um período de altos e baixos. Expectativa proporcional ao investimento, mas com resultados aquém e polêmicas, a última envolvendo o atacante Dudu, uma das principais contratações para a temporada.
Cruzeirense e empresário de sucesso no ramo supermercadista, Pedro Lourenço causou euforia na torcida do clube. Era a chegada de um gestor que prometia investimento e briga por títulos mais rapidamente, em substituição a um dono marcado pelo trabalho de austeridade e ambições esportivas mais modestas.
Na prática, as primeiras atitudes já davam indícios de que a intenção de Pedrinho era realmente fazer o Cruzeiro dar um salto de patamar. Com a diretoria capitaneada por Alexandre Mattos, CEO de futebol, quase R$ 200 milhões foram gastos na primeira janela de transferências, com a chegada de Cássio, ídolo do Corinthians, e a repatriação de uma dupla do futebol italiano: Matheus Henrique e Walace. Além disso, a compra do camisa 10, Matheus Pereira. O recado estava dado ao mercado.
Inicialmente, o Cruzeiro teve resposta positiva. Boas atuações com o técnico Fernando Seabra – mantido no cargo – e time brigando nas cabeças do Campeonato Brasileiro. Na Conmebol Sul-Americana, começou a campanha de recuperação, quando o time havia feito primeiro turno sem uma vitória sequer.
Mas, em meio a um momento que dava bons indícios esportivos, houve a primeira “turbulência” causada por declaração de Pedro Lourenço. Em áudio vazado no dia 25 de julho, o mandatário cobrou Fernando Seabra a escalação dos jogadores comprados no meio do ano. Naquele momento, apenas Cássio e Matheus Henrique eram absolutos na equipe.
A declaração teve o peso aumentado pelo fato de Fernando Seabra ter sido contratado pela gestão de Fenômeno. Pedro Lourenço tratou de colocar panos quentes na situação. Dias antes do vazamento do áudio, havia concedido aumento salarial ao treinador. Seabra foi demitido dois meses depois, no fim de setembro.
Fernando Diniz foi contratado para a vaga. Chegou como campeão da Libertadores e técnico de seleção brasileira. Era um desejo pessoal do dono da SAF. Mas não ajudou o time a decolar na temporada. Chegou à final da Conmebol Sul-Americana, mas o Cruzeiro foi dominado pelo Racing e ficou com o vice. No Brasileirão, não conseguiu a vaga para a Libertadores, principal objetivo do ano.
O fim da temporada também chegou com um episódio polêmico. A diretoria havia decidido pela demissão de Fernando Diniz, que disparou contra a direção ao ser perguntado a respeito da situação no jogo final do Brasileiro. Reuniu-se com Pedro Lourenço, foi mantido no cargo, mas acabou demitido após três jogos do Mineiro 2025. A manutenção do treinador foi considerada uma decisão errada por Pedro Lourenço, após a decisão pela saída.
Mas, antes mesmo da demissão do segundo treinador da atual gestão, o Cruzeiro foi novamente agressivo à janela de contratações. Gastou menos para adquirir direitos econômicos, mas buscou jogadores badalados no futebol nacional, como Dudu, Fabrício Bruno e Gabigol. A folha salarial passou dos R$ 20 milhões e está entre as principais do país.
As expectativas sobre a temporada aumentaram, o que também contribuiu com a demissão de Fernando Diniz, cobrado pela torcida e com jogos ruins no início do Mineiro. Leonardo Jardim chegou para ser o terceiro treinador da administração.
O português está perto de completar três meses no cargo. Com ele, o time foi eliminado na semifinal do Mineiro, ainda não somou pontos na Sul-Americana, mas começa o Brasileirão entre os primeiros colocados. Está respaldado por Pedro Lourenço.
Mas, nesse período, também convive com situações polêmicas dentro e fora do clube. Já com ele no comando da equipe, houve o primeiro protesto da torcida desde que Pedro Lourenço assumiu a SAF. Alexandre Mattos foi o alvo principal das organizadas que estiveram na porta da Toca da Raposa, semanas atrás. O elenco também foi cobrado.
No mesmo momento em que torcedores protestavam contra a diretoria e o elenco na Toca da Raposa, líderes do grupo de jogadores estavam reunidos com Pedro Lourenço para “aparar” arestas. O desempenho do time foi assunto, mas também houve uma “cobrança” dos jogadores por conta de declarações do mandatário.
Naquele momento, o motivo dessa busca dos jogadores por explicações foi uma entrevista de Pedro Lourenço afirmando que havia feito cobranças a Alexandre Mattos e admitindo que o clube errou muito ao realizar contratações e formar o elenco.
O próprio treinador deu declarações fortes em meio a resultados ruins, citando, por exemplo, que não participou da montagem do elenco com o qual trabalha. Em campo, optou por barrar Dudu e Gabigol do time titular e causou a primeira rota de colisão.
Dudu, que está entre os três principais salários do Cruzeiro, reclamou publicamente de ir para o banco de reservas, foi cortado do jogo contra o Vasco e tem futuro indefinido no clube, mesmo com quase três anos de contrato pela frente.
O episódio do atacante também colocou Pedro Lourenço em evidência, novamente por declarações “não-oficiais”. Presente em Uberlândia para acompanhar o jogo contra o Vasco, foi perguntado por um torcedor sobre Dudu e sinalizou que o atacante deixará o clube. Por outro lado, Leonardo Jardim preferiu relativizar a situação e trata-la como assunto interno.
A expectativa é de que, com participação efetiva do técnico, o clube seja novamente forte na janela de transferências do meio do ano.
Neste ano, o primeiro objetivo não foi conquistado pelo Cruzeiro: voltar a ser campeão mineiro. A Sul-Americana é vista como principal chance de título na temporada, mas o clube almeja avançar no mínimo até as quartas de final da Copa do Brasil. No Brasileirão, o grande objetivo é, mais uma vez, conseguir vaga na Libertadores.