Por Oliveira Lima
Quando o Cruzeiro perde para o Murchuc Runa, pela segunda rodada da fase de grupos da Copa Sul-Americana pelo placar de 2×1 em pleno Mineirão, no dia 09 de abril, iniciou-se uma revolução azul pelos lados da Toca Raposa. Na manhã seguinte, o técnico português Leonardo Jardim chama o dono do clube, Pedro Lourenço, para uma conversa ao pé do ouvido. Assunto era urgente: mudança radical no time, e também no clube em si.
Sai a ideia de time midiático que dominava Pedrinho BH e entra a noção de equipe, de time que norteia Leonardo Jardim. Debaixo de forte crítica externa(inclusive de Pedrinho BH), pressionado por todos os lados, o treinador assume as bronca geral, convence o mandatário à realidade de um verdadeiro time de futebol. Isso é tudo. O mandatário cruzeirense dá total autonomia ao treinador para mudar o que quiser.
Jogo seguinte, pelo Brasileiro, teve como cenário o Estádio do Morumbi. Gabigol, Dudu, Marlon e William vão para a reserva. Sem eles o time joga muito bem, muda da água para o vinho e inicia uma virada histórica que o norteia até agora. No dia seguinte Jardim chama todos os reservas para uma conversa direta. Quem entendesse o sentido de grupo, indo para o banco, mas com gana de voltar à titularidade na bola e não no nome, poderia ficar. Quem não entendesse este propósito, poderia sair. Dudu e Marlon foram embora. Gabigol e William ficaram.
Em campo o novo time do Cruzeiro “abandona” a Copa Sul-Americana e arranca no Brasileirão. Em apenas dois meses chega à ponta da tabela do mais difícil campeonato nacional do planeta. Se vencer nesta 12ª rodada, irá dormir por 30 dias na liderança do campeonato, algo impensável há 60 dias atrás. Os dois atletas que entenderam a situação, quando entram melhoram o time. E não são titulares! Gabigol e Willian.
Mas faltava ainda uma outra mudança a ser feita. E ela não estava no time e sim no comando. A ideia de grupo fechado e unido de Leonardo Jardim não comunga com o perfil autoritário do CEO Alexandre Mattos. Desta maneira o homem-forte do futebol foi perdendo espaço e vendo o treinador virar também um manegar, algo muito comum no futebol europeu, de onde ele veio.
Desta maneira o “comando cruzeirense” tem a mesma ideia: jogadores mais próximos do treinador e diretoria, num verdadeiro grupo fechado, a chamada ” Família Cruzeiro”. E nela não cabia Alexandre Mattos. Virá para o lugar dele, um ex-jogador identificado com o Clube, para completar o elo entre as partes. Na nova formatação de comando, no dia a dia, Pedro Junio, filho do dono Pedrinho BH é o responsável por tudo. Por trás tem um homem extremamente experimentado no lidar com o futebol, Paulo Pelaipe. Mas tudo tem que passar pelo técnico Leonardo Jardim, formando as pontas da engrenagem com o proprietário Pedro Lourenço. Já em campo, um elenco unido tem como líder o novo capitão Lucas Silva, cria eterna do clube e as lideranças técnicas de Gabigol, Fagner, Lucas Romero, Cássio.
Um time que sai das cinzas, ridicularizado e fadado ao fracasso, em apenas dois meses vira ícone do futebol brasileiro. Jogadores de ótima qualidade estavam lá. Bastava um bom comando, uma união em família e uma mente que nasceu para comanda um time de futebol: Leonardo Jardim. Alexandre Mattos não cabia ali.